Versos sacanas

Da Biblioteca: "Antologia da Poesia Erótica Brasileira", organizada por Eliane Robert Moraes

Tem Paulo Leminski. Tem Ana Cristina Cesar. Tem Arnaldo Antunes. Tem Roberto Piva, Drummond e Alice Ruiz. Hilda Hilst, claro. E também tem gente mais antiga. Augusto dos Anjos, Olavo Bilac e Gilka Machado, por exemplo. Ou muito mais antiga. Gregório de Matos, único representante do século 17, está lá.

Eliane Robert Moraes talvez seja a principal pesquisadora da sacanagem em nossa literatura. Recentemente eu conversei com ela por conta de “O Corpo Desvelado” (CEPE), reunião de contos eróticos brasileiros publicados entre 1922 e 2022. O livro que saco da biblioteca desta vez, no entanto, é de poemas.

Em 2015 que a professora de Letras Clássicas e Vernáculas da USP publicou pela Ateliê Editorial “Antologia da Poesia Erótica Brasileira”. A obra é uma viagem pela história da nossa literatura por meio de versos picantes, alguns mais velados, outros tantos de conteúdo bastante explícito. 

Eliane selecionou escritos de mais de 120 autores para compor o volumão de 504 páginas. Pesco aqui um poema curtinho de Adélia Prado:

As galinhas com susto abrem o bico

e param daquele jeito imóvel

- ia dizer imoral -

as barbelas e as cristas envermelhadas,

só as artérias palpitando no pescoço,

Uma mulher espantada com sexo:

mas gostando muito.

Merece a atenção tanto de quem se interessa por poesia quanto de quem tem apreço pelas formas que a literatura erótica tomou ao longo do tempo para refletir fantasias e desejos. E não se engane, a sacanagem de séculos atrás pode fazer muito autor contemporâneo se sentir um pudico.

Da Biblioteca: “Antologia da Poesia Erótica Brasileira”, organizado por Eliane Robert Moraes (Ateliê Editorial, 2015). Vale a leitura.