Sempre abro um sorriso quando me lembro de uma história contada pelo crítico literário Antonio Candido.
Certo dia, Candido recebia em sua casa a visita de Murilo Rubião, exímio contista, autor de uma literatura marcada pelos elementos fantásticos. De óculos, bigode grosso e calvície exemplar, Rubião ficou sério na hora de compartilhar uma preocupação com o amigo.
Sabe, Antonio, acho que sou parente do Rubião, do “Quincas Borba”.
Sim, Murilo cogitava ser da família de um dos personagens clássicos de Machado de Assis.
O anfitrião pensou estar diante de uma brincadeira, uma tiração de sarro do convidado num momento de descontração. Mas percebeu que Rubião não alterava o semblante. Tanto que resolveu explicar sua hipótese.
Veja você, continuou o escritor, o Rubião fica doido e ele é de Barbacena, no Sul de Minas. Eu sou do sul de Minas. Eu e a minha família. E na minha família tem muito maluco.
Para fechar, voltou a sublinhar a ideia digna de um dos seus contos: Eu acho que sou parente do Rubião.
Ele parecia personagem dele mesmo, diria mais tarde Antonio Candido ao se lembrar daquele papo inusitado.
Foi Candido que apresentou a literatura de Rubião para o editor Jiro Takahashi, lenda do nosso meio editorial, reverenciado pelo trabalho com as coleções “Para Gostar de Ler” e “Vaga-lume”.
Jirou apostou em Rubião a ponto de, em meados da década de 1970, a edição da Ática de “O Pirotécnico Zacarias” vender mais de 100 mil exemplares. Numa recente conversa que tivemos para o podcast da Página Cinco, o editor lembrou episódios que viveu com o escritor.
Ele era um pouco mágico, um pouco bruxo, uma coisa meio estranha, conta Jiro. Ficou marcado em sua memória o dia em que passou pela casa de Rubião. O autor aproveitou para lhe mostrar um pouco de seus métodos artísticos.
Na papelada havia cópias inteiras de romances de Machado de Assis datilografados linha a linha por Rubião.
Por que fazia isso? Apostava que reescrever cada palavra, cada letra de um “Quincas Borba” ou de um “Dom Casmurro” poderia fazer com que incorporasse algo da genialidade do Bruxo do Cosme Velho.
Quero ver se a minha mão, sendo extensão daquilo que estou copiando, pega alguma coisa do espírito do Machado para quando eu for escrever, justificava.
Um dos nossos grandes autores, sim, e figura peculiar esse Murilo Rubião.
Espaço patrocinado por Crio Café
Café e pão de queijo
Quando visito uma cafeteria, costumo pedir quatro coisas para avaliar a competência do lugar: café coado, cappuccino, pão de queijo e um doce. Explico.
No mundo da cerveja, comum ouvir que o maior desafio é fazer uma boa pilsen, estilo límpido, cheio de sutilezas, sem extravagâncias que possam mascarar defeitos. Vejo o café coado da mesma forma: é ele que mostra se o lugar trata bem a bebida.
Com o cappuccino, percebo como a cafeteria trabalha com as misturas. Um leite quente demais ou com vaporização mal feita pode arruinar o que temos na xícara. Achar que todo cappuccino leva chocolate ou canela é erro grave - sem nada disso no meu, por favor.
Costumo ir de bolo quando peço o doce, de preferência de cenoura com cobertura de chocolate. Chocolate enrolado em massa folhada também pode ser uma boa.
E, junto do café, o pão de queijo é o elemento mais importante dessa equação. Cafeteria sem um pão de queijo com cara própria é tão decepcionante quanto cafeteria que não dá a devida importância para o café - e existem muitas, mas muitas mesmo por aí.
Não deixe de provar o pão de queijo da Crio. Há, inclusive, séries limitadas feitas com queijos de pequenos produtores brasileiros.
É um lugar que leva o próprio trabalho bastante a sério.
Clube de Leitura da Página Cinco
Em setembro nós tivemos um ótimos papo sobre “Diorama”, da Carol Bensimon (Companhia das Letras).
Os próximos encontros do Clube de Leitura da Página Cinco, exclusivo para os assinantes que pagam pela newsletter, serão em novembro e dezembro!
Em novembro, no dia 18, conversaremos sobre “Cidadã de Segunda Classe”, da nigeriana Buchi Emecheta (Dublinense).
E em dezembro, no dia 16, para fechar bem o ano, será a vez de “O Castelo”, de Franz Kafka (diversas editoras).
Aqui há mais o informações sobre o Clube de Leitura da Página Cinco.
📢 O que mais rolou na Página Cinco
📝 Dalton Trevisan: a melancolia da chuva e a vida em risco sobre duas rodas
📝 “Mãezinha”: leia um trecho inédito do vencedor do Prêmio Caminhos
📝 James Baldwin: os donos do sonho americano e seus massacres que viram lenda
📝 Sonho, fantasia e realidade: Cartarescu é um autor que merece sua atenção
🎙️ Os 50 anos de “As Meninas”, de Lygia Fagundes Telles - papo com Nilton Resende:
Chegou até aqui?
Então veja Antonio Candido lembrando a história com Rubião:
E o papo com o Jiro:
Rubião era meio bruxo. Precisamos estudar seu método de incorporação da Machado de Assim. No caso del parece que deu certo,. Outros viraram plagiadores. Abr
Eu tbm queria ser meio bruxa meio mágica