Outro dia compartilhei um trecho de uma entrevista que Yoko Ogawa concedeu ao Jornal Rascunho: “Não quero guiar o leitor dentro do romance, as personagens e os leitores é que irão se confrontar cara a cara, um a um, em conversas silenciosas, e que possam encontrar as próprias verdades”.
Espalho as palavras de Yoko sempre que posso. Nos últimos tempos tenho visto cada vez mais leitores de olho no trabalho da autora. De pegada distópica, “A Polícia da Memória” saiu por aqui em 2021 e foi o responsável por fazer com que muita gente descobrisse a japonesa.
Desde 2017 que presto atenção em sua produção que chega ao Brasil pela Estação Liberdade. Traço caro a boa parte da literatura latino-americana contemporânea, o insólito também está presente nas ficções de Yoko, ainda que numa chave bem diferente da que vemos neste canto do mundo. Os estranhamentos e desconfortos vêm de ambientações singulares, personagens incomuns e de um clima de mistério criado com maestria.
Às vezes me perguntam por onde começar a ler Yoko. Nunca sei muito bem como responder. Mas talvez a minha porta de entrada também seja uma boa para outros leitores: “O Museu do Silêncio”, lançado por aqui em 2016 com tradução de Rita Kohl.
Nele, um museólogo chega a uma pequena cidade perdida no interior do Japão para montar uma coleção com pertences simbólicos de pessoas que por ali morreram. Se o defunto for um cego, que busque seu olho de vidro para o acervo.
Quem o contrata é uma senhorinha nada amistosa, de idade bem avançada e pouco afeita a regras. Faz caminhar a história a série de assassinatos que assustam a pacata cidade após a chegada do homem. O personagem, então, parece mergulhar numa espécie de realidade paralela, apartada do restante do mundo.
Da Biblioteca: “O Museu do Silêncio”, de Yoko Ogawa (Estação Liberdade, 2016, tradução de Rita Kohl). Vale a leitura.