O livro para a viagem de férias
Garimpar pelo caminho os parceiros do restante da caminhada é uma boa estratégia
Seria lindo. Ficaria algumas semanas pela Espanha passeando em companhia de Dom Quixote, Sancho Pança e Rocinante. Não iria a Toboso, mas reencontraria Dulcineia após caminhar por ruas também pisadas por Cervantes.
Conheceria um país novo para mim ao mesmo tempo em que revisitaria um dos livros da minha vida. Se desse sorte, assistiria à batalha contra o dragão ao mesmo tempo em que avistaria um moinho de vento pela janela do trem.
Me iludi em outras ocasiões. É ter uma viagem mais longa diante do nariz que penso em mergulhar em algum clássico caudaloso. Só que no final acabo lendo romances mais ligeiros, contos, ensaios.
Foi assim em Portugal. “Um Conto de Duas Cidades”, do Dickens, só saiu de casa para passear. Quem recebeu mesmo atenção foi Mariana Enriquez e o seu “As Coisas que Perdemos no Fogo”.
Não teria como ser diferente. A literatura é parte central de qualquer viagem que faço. Passei as últimas semanas dando atenção a Rosa Montero, Sara Mesa, Enrique Vila-Matas, Manuel Vilas, Irene Solà e Eva Baltazar, estas duas últimas representantes do catalão.
Também conferi o que a mexicana Brenda Navarro tinha a me dizer sobre a Espanha. É sempre bom variar o ponto de vista. Nesse sentido, me lembrei da peruana Gabriela Wiener, outra a conhecer a vida de imigrante no país europeu.
De leituras passadas, me vieram à cabeça Carlos Ruiz Zafón, Carlos Giménez, Antonio Altarriba e o britânico George Orwell com sua luta na Guerra Civil Espanhola.
Escarafunchar e colocar no roteiro alguns destinos literários faz parte do planejamento da viagem. O primeiro hotel estará do lado da estátua de Cervantes. A Biblioteca Gabriel García Márquez, em Barcelona, já era parada obrigatória. Algumas livrarias clássicas de Madri também.
Nas pesquisas, estranhei quando vi uma livraria focada em fazer do mundo um lugar melhor. Sei lá, desconfio desse tipo de marketing filosofia good vibes demais… Deixei essa de lado.
Farei questão de passar pela Altair com seus livros de viagem. Pela Lata Peinada, especializada em latino-americanos. Pela Tipos Infames, que me parece um lugar dos sonhos ao juntar livros com vinhos. Estou certo de que em algumas delas acharei títulos e autores que sequer sabia estar procurando.
Decidi: o tijolaço de Cervantes dividido em dois volumes ficará em casa.
Enquanto não fecho a mala sempre há chance de mudar de ideia. Por enquanto, o que pretendo fazer é levar meu e-book com algumas opções e encontrar pela Espanha mesmo uns dois ou três livros físicos que me acompanharão durante a viagem. A preferência será por títulos que ainda não chegaram ao Brasil.
Aprendi: garimpar pelo caminho os parceiros do restante da caminhada é uma estratégia que costuma dar certo.
Férias da newsletter também
A newsletter entrará de férias junto comigo. A ideia é que a próxima edição seja enviada para vocês na segunda quinzena de janeiro. Já pausei o podcast também. Deixei colunas programadas no UOL, duas por semana.
Boas festas para quem é de festas. Bom final de ano a todos.
E um 2024 cheio de boas leituras para nós!
📢 O que mais rolou na Página Cinco
📝Quando a busca por uma vida melhor em outro país vira um pesadelo: resenha de “Cinzas na Boca”, de Brenda Navarro.
🎙️ Mais dúvidas do que certezas: papo com Milton Hatoum:
📝 Booklovers: uma série para entender o amor pelos livros.
📝 Livros para enxergar o que nem sempre notamos numa viagem.
O mercado editorial hispânico vive um ótimo momento. Dá uma olhada na Desperate Literature em Madrid. Boas viagens: pelos livros e pela Espanha, e que uma alimente a outra.