É um bom momento para as newsletters no país. Uma quantidade razoável de autores de diversas áreas estão criando suas próprias plataformas. É grande a empolgação com a coisa. Uma olhada rápida no Notes e vemos gente comemorando a leitura de seus textos, a quantidade de inscritos, a liberdade oferecida pelo formato…
Elaborei algumas dicas pensando em quem está se aventura por essa área. São toques que vêm não apenas da minha experiência com a newsletter da Página Cinco, mas de mais de uma década vivendo de escrever e publicar com regularidade textos sobre um assunto específico: livros.
Você acabou de criar a sua newsletter e está super empolgado com a novidade. Passa o dia pensando nela e ideias de novos textos não param de surgir. Pois, se tiver tempo, escreva muito mesmo ou registre as ideias, pelo menos. Não deixe essa empolgação passar.
Escreva, mas, vá por mim, não saia publicando tudo. Mantenha opções na gaveta para ter o que publicar quando o tempo apertar ou a criatividade hibernar.
Regularidade é fundamental. Defina uma periodicidade e siga esse pacto com o leitor. Saber o dia e a hora em que a newsletter vai ao ar é importante para a organização de todos.
Não sabe se conseguirá escrever uma edição por semana? Tenha calma. Proponha-se a escrever um texto a cada 15 dias ou um mês. Depois, se for o caso, reveja esse intervalo. Vai furar? De vez em quando acontece, mas avise.
Será uma newsletter sobre livros? Música? Comida? Cinema? Cultura de forma geral? Mercado financeiro? Bordado? Cachaça? Diário pessoal? Tudo cabe nesse espaço. Só que é mais fácil ter o que escrever quando o foco está num assunto ou outro.
Defina sobre o que será a sua newsletter. Pensar em determinados nichos te ajudará a manter o radar ligado e nunca ficar sem pauta. Vez ou outra, alguma fuga ao tema é bem-vinda (vide este texto num espaço sobre livros).
Primeiro você escreve, depois você publica o texto da sua newsletter. Publica, entendeu? O texto vira algo público, que pode ser lido e comentado por todos.
Fique contente com os elogios, mas saiba que críticas negativas, diretas ou indiretas, podem vir e são legítimas. E crítica é diferente de mera estupidez, como já escrevi.
Tomou umas bordoadas ou achou que alguma crítica mais geral resvala no seu trabalho? Preste atenção. Reflita. Filtre. Pegue o que considera oportuno. Repense alguma prática, se for o caso. E siga adiante. Você não precisa dar nem tirar satisfações por aí.
A crítica foi mais pesada ou direta e você acha que deve respondê-la? Pode acontecer. Que tal usar a própria newsletter para isso, então? Pense num texto bem argumentado abrindo o debate, centrado nas ideias, não nas pessoas. É melhor do que ficar de bate-boca em rede social.
Você vai errar. Será horrível. Sentirá vergonha quando notar a besteira. Mas vai passar. Só presepadas gigantescas são capazes de, sozinhas, arruinar toda uma caminhada. Ainda que um dia terrível possa deixar suas marcas, acredite: a gente sobrevive.
É legal perceber que os leitores estão te notando, né? Pois seja generoso também. Deixe likes em textos que você gostou. Comente. Compartilhe os que adorou. Se possível, apoie com grana algumas newsletters.
Todo trabalho merece ser remunerado. Vale dedicar um tempo pensando em como fazer dinheiro com o que você escreve, o que oferecer aos seus leitores (e quais compromissos extras assumir com eles, consequentemente).
Nunca cadastre e-mails de pessoas que não pediram para ser cadastradas na sua base de assinantes. Cabe ao leitor fazer a inscrição ou pedir para ser inscrito na sua newsletter. Não pega bem socar suas edições na caixa de entrada de quem não solicitou recebê-las. A não ser que você queira ter visto como um spam.
Pensando no Substack: indique alguém que você admira depois de já ter alguns textos publicados. Ao receber a notificação da indicação, talvez essa pessoa pense em ver o seu trabalho, daí é melhor que encontre de fato algo ali, não uma newsletter quase vazia ou ainda em branco.
Quer colaborar com alguma dica, deixar uma pergunta ou gostaria que eu me aprofundasse mais em algum dos tópicos? Só dizer nos comentários.
Clube de Leitura P5
Nesta semana aconteceu o papo sobre “Afirma Pereira”, de Antonio Tabucchi, nossa leitura de julho. Foi ótima a conversa a respeito do romance do italiano.
Os próximos encontros do Clube de Leitura da Página Cinco, exclusivo para os assinantes que pagam pela newsletter, serão em setembro e novembro. Os livros já estão definidos:
Em setembro leremos “Diorama”, da Carol Bensimon (Companhia das Letras).
Em novembro será a vez de “Cidadã de Segunda Classe”, da nigeriana Buchi Emecheta (Dublinense).
Desvendar Alice Munro
“Vandals não é exatamente uma chave para compreendermos o lado sombrio de Alice Munro. Nenhuma obra pode explicar completamente um autor”
“Uma mãe não é sequer a mesma mãe para todas suas filhas. Como é que nós, mantidos do lado de fora, podemos ter a pretensão de desvendar Alice Munro?”
, grande leitora de Alice Munro, escreve sobre recentes revelações a respeito da autora canadense.Livros não lidos
“Antigamente, cavalos com estribos e barcos a vela já foram tecnologias que mudaram o mundo. Hoje, se tornaram objetos de luxo para uma elite de colecionadores. Considerando que a Wikipédia tomou o lugar das enciclopédias, e que uma pessoa intelectual não precisa mais ter acesso físico a uma biblioteca de papel para ser bem informada, os livros físicos ainda servem para alguma coisa? Pior: existirá alguma justificativa razoável para legitimar o comportamento de nós, pessoas que compramos mais livros do que conseguimos, ou mesmo tentamos, ler?”
e os livros não lidos como aposta no futuro:Toda biblioteca é fantástica
“Toda biblioteca é fantástica, quando mais não seja pela sua heterogeneidade, seu acúmulo de pensamentos que se desconhecem uns aos outros, sua preservação de idéias pelas quais ninguém pergunta ou responde, pela latência de grandes verdades à espera de seu redescobrimento, pela multiplicação de versões de tempos que já se foram, pela garantia de que faz parte da essência humana esse diálogo permanente com o passado”.
Braulio Tavares e as bibliotecas fantásticas no Mundo Fantasmo.
📢 O que mais rolou na Página Cinco
📝 Desilusões de quem acreditou nos estudos no país da soja: resenha de “Saturno Translada”, de Lucas Lazzaretti
📝 New York Times e os melhores livros do século: desconfiem de listas assim
📝 Protegeu marido abusador: como lidar com Alice Munro após denúncia da filha
📝 Pinóquio generoso e mais uma livraria histórica que fecha as portas
Acho que uma dica preciosa é não desistir. Eu não tenho um perfil forte e grande, mas amo escrever e fiz minha news na fé mesmo. Me coloquei o prazo de enviar de 15 em 15, até tive uma frente, mas acabou e eu não tinha o que escrever, fiquei frustada. E quase deixei de lado, mas não desisti. Eu tenho 20 assinantes, e talvez umas 5 pessoas leem de fato, mas não desisto. E vou seguir assim!
Valeuu, Rodrigo! Ainda não vi nenhuma crítica negativa (nos textos que li), o pessoal aqui parece incentivar mais uns aos outros do que em outras plataformas. Queria entender mais a dinâmica entre as newsletters e os notes, por vezes parecem duas redes diferentes (exemplo: vc dá follow na pessoa para ver os notes dela, mas não recebe o newsletter).