Um prêmio garantirá meu sucesso na literatura?
A primeira coisa que diria para um escritor que sonha com tal glória é: seja razoável com as expectativas
Dia desses, um leitor me escreveu interessado em saber mais sobre premiações literárias. Supunha que os prêmios poderiam impulsionar a carreira dos autores, projetá-los para o mercado.
Pode acontecer. Mas a primeira coisa que diria para um escritor que sonha com tal glória é: vá com calma, seja razoável com as expectativas.
Prêmios são importantes. Oferecem aos leitores recortes da produção contemporânea, o que sempre diz muito também sobre o corpo de jurados (escrevi a respeito aqui). Provocam debates. Eventualmente indicam ou consolidam tendências. Projetam, sim, alguns nomes.
Ganhar um prêmio salva o dia, talvez o bimestre, quem sabe o ano (principalmente se a grana for boa, o que é raro). Dá alguma evidência para o nome do autor, o que pode se converter em matérias, convites para eventos, resenhas do livro e, o mais importante, novos leitores.
Só que essa projeção não é automática.
Engana-se quem pensa que basta um prêmio para garantir o deslanchar da carreira. Tudo seguir mais ou menos na mesma pasmaceira é mais recorrente do que uma distinção transformar o vencedor no novo grande nome da literatura. Não é raro que chegue por aqui livros de autores tão desconhecidos quanto os prêmios que lhes consagraram.
Não digo isso para desanimar ninguém, apenas para ajudar a adequar as expectativas. Prêmios são incentivos que tendem a gerar algo legal num curto prazo, mas não garantem o futuro. Está cheio de autor premiado que largou a escrita ou, pior, parece ter sido abandonado até pelos poucos leitores que teve em outro momento.
Conquistas pequenas e sólidas espalhadas ao longo do tempo são mais importantes para estabelecer o nome de um escritor do que um simples prêmio.
Começar a caminhada na literatura com um empurrão desses pode ajudar, claro. O Jabuti e o São Paulo têm categorias voltadas para estreantes. O Prêmio Sesc ofereceu condições para que bons autores dessem seus passos iniciais. E agora temos o Prêmio Caminhos de Literatura.
Quem está por trás da novidade é o escritor e produtor cultural Henrique Rodrigues, até outro dia a principal cabeça do Prêmio Sesc. O Caminhos premiará autores inéditos. O vencedor embolsará 5 mil reais de adiantamento, terá o livro publicado em 2025 pela Dublinense e receberá mentoria de Henrique sobre o meio literário. Aqui estão mais informações.
Tem outro ponto importante. Receber um prêmio não significa que um livro é indiscutivelmente bom. Há muita tranqueira galardoada por aí. Por outro lado, tem escritores talentosos pra caramba que passam uma vida inteira sem ganhar nada. E seguem bem assim.
Se eu gostaria de vencer alguma coisa com o meu “A Biblioteca no Fim do Túnel”? É claro.
Uma final do Jabuti me deixaria feliz demais. Um prêmio da Biblioteca Nacional faria bem principalmente para o bolso. Sei, no entanto, que qualquer feito desses renderia uma alegria extra pro final do ano e mais um dado importante no currículo, mas não mudaria radicalmente a minha situação profissional.
Os atalhos quase sempre são pequenos na literatura. Por mais que sejam bem-vindos, cortam bem menos caminho do que a gente imagina.
Clube de Leitura P5
Os próximos livros do Clube de Leitura da Página Cinco, exclusivo para os assinantes que pagam pela newsletter:
No dia 25 de julho, às 20h, via Meet, conversaremos sobre “Afirma Pereira”, de Antonio Tabucchi (Estação Liberdade).
Em setembro leremos “Diorama”, da Carol Bensimon (Companhia das Letras).
Em novembro será a vez de “Cidadã de Segunda Classe”, da nigeriana Buchi Emecheta (Dublinense).
Olimpíadas via newsletter
O
, da Passageiro, vai publicar em sua newsletter uma cobertura das Olimpíadas de Paris e procura financiamento para essa iniciativa que promete ser legal pra caramba:Preciso viajar?
“Cris, linda sua viagem, inspiradora, mas meus boletos não me permitem nem atravessar a rua pra comer num bandejão, ou pagar um pastel na feira pro meu peguete, imagina então viajar… Meu projeto literário fracassará por isso?”
Na Linguagem Guilhotina,
e os caminhos diferentes que nos levam a ficções diferentes:Cheiro de vinho
“A vantagem de saber como desvendar uma bebida é aproveitá-la melhor, saber com o que ela combina (seja ocasião, prato ou estação do ano) e se ela vale o preço que custa.”
Sempre podemos aprimorar os nossos gostos. Um pouco de vinho - e de como aproveitá-los melhor - com a
, da Saca Essa Rolha:📢 O que mais rolou na Página Cinco
📝 O ‘cagara o juízo’ de Machado de Assis e o tornozelo inchado de Messi
📝 Camila Sosa Villada e a escrita como primeiro ato de ‘travestismo’
📝 A onda dos livros magrelinhos
📝 Mercado editorial: para onde caminha um setor que fatura cada vez menos?
🎙️ A literatura árabe contemporânea - papo com a tradutora Safa Jubran:
Já vi muito escritor fechar em definitivo a gaveta com seu original por não ter ficado entre os finalistas ou ganhadores de determinado prêmio. É meio triste, compreendo até a frustração, mas é preciso ter a consciência de que concursos pra inéditos é um ótimo caminho, mas é um dos muitos, e de que a carreira de um livro não morre quando não sai na lista de um prêmio (nem necessariamente se impulsiona quando fica finalista de um). Ótimo texto.
Para mim, os prêmios têm um único significado: o que escrevo é razoavelmente bom. Acredito que todo escritor tem essa dúvida, então submeter um texto a um edital e ter reconhecimento dá esse gás!