35 Comentários
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Avatar de Raphael Wandermur

"E a boa crítica consegue iluminar diferentes pontos de uma mesma obra, reconhecendo seus eventuais méritos e apontando os defeitos."

Acho que o ponto está aqui. Há uma dificuldade em se fazer uma crítica desassociada da opinião pessoal. Já vi um livro avaliado com uma estrela na Amazon e a justificativa foi "não era o que eu esperava".

E aí vem uma questão de formação: as pessoas sabem de fato o que é uma crítica? Sabem que você pode avaliar uma obra sem necessariamente entrar no mérito de "gostei" ou "não gostei"?

Faço esses questionamentos no lugar de alguém que ainda está aprendendo tudo isso. Talvez por isso eu tenha levantado tantas perguntas e nenhuma resposta hahaha

Abraço, Rodrigo!

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Avatar de Rodrigo Casarin

Daí tem um outro problema também: quem não consegue diferenciar uma crítica ou opinião que para em pé de outra que deve ser desprezada, independente se elogiosa ou não. Normalmente não dá pra levar o que aparece na Amazon a sério, apesar da força que as estrelinhas ali têm para fazer com que alguém se interesse ou não por um livro.

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Avatar de pedro rabello

concordo com você: todo mundo tem direito à opinião, seja positiva ou negativa. acho que o importante é cada um tentar compreender os motivos pelos quais gostou ou não gostou de determinada obra. a pluralidade de opiniões torna só torna o debate mais rico, sobretudo quando são bem embasadas.

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Avatar de Rodrigo Casarin

E saber ignorar as opiniões sem pé nem cabeça também é importante rs

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Avatar de Rafael Cal

Ótima análise, Rodrigo. Tenho a impressão que esse cenário foi sendo gestado ao longo dos anos (diria que desde o começo da década passada). Quando a crítica literária como atividade vai perdendo espaço (crise dos jornais, crise dos leitores, crise) e ascende um novo tipo de interlocução com as obras, há uma outra crise: a da possibilidade de pensar o texto do outro como uma chave de leitura. Pra mim, é um desastre de grandes proporções: para os leitores, para o autor, para o mercado literário e para quem escreve sobre. No caso destes últimos, pode desembocar (e talvez já venha desembocando por vezes) em algum tipo de limite autoimposto em certas situações.

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Avatar de Rodrigo Casarin

Valeu, Rafael. Também vejo como um cenário em que todos perdem.

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Avatar de giuliana

Pois é, e essa questão ainda fica mais complicada se pensamos em pessoas "fora do padrão" que publicam livros. Outro dia escutei o ep do podcast Fio da Meada que justamente se chama "Luiz Mauricio Azevedo não tem medo de falar mal de um livro". O Luiz Azevedo comenta como ele, um crítico literário negro, tem dificuldades em criticar livros de pessoas negras porque infelizmente poucos escritores negros conseguem publicar e, para não limitar os que são aspirantes ainda, muitos críticos não ousam dar sua verdadeira opinião. Mas sem críticas bem feitas, esses escritores também não conseguem evoluir em sua escrita. Um dilema...

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Avatar de Rodrigo Casarin

Ótimo lembrar essa entrevista, Giuliana. Ela é preciosa e reveladora.

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Avatar de Paulinho Assumpção

Rodrigo, essa questão toma proporções bem maiores quando se trata das Artes Plásticas. Acredito que o medo de emitir uma opinião desfavorável a uma obra quando existe uma unanimidade em torno dela (que nem sabemos se é verdadeira), lá se torna praticamente insuperável. Obs: os sorrisos forçados nos auditórios ainda existem... rsrsrsrsr

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Avatar de Rodrigo Casarin

Paulinho, pelo pouco que acompanho das artes plásticas, posso imaginar que a coisa seja mesmo pior. E será que um dia nos livraremos dos sorrisos forçados? rs

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Avatar de Raisa Monteiro Capela

Faz todo sentido mesmo, Rodrigo. Não vou negar que fico super sem graça de falar que não gostei de um livro em redes sociais, sobretudo quando o autor tá orbitando próximo por aí 😅😅😅

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Avatar de Rodrigo Casarin

E ainda mais quando o autor gosta de discutir com quem não gostou do livro, imagino rs

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Avatar de Lisandro Gaertner

Essa intencionalidade apressada de criticar e avaliar qualquer texto, que move a maioria dos leitores, hoje, é o que me incomoda. Ruim, bom, mais ou menos não são atributos da obra. São sensações, impressões, calcadas em um repertório, técnico ou não, que nos surge do contato com o texto. E um texto mal escrito, isso, sim, existe, e aos montes, pode provocar incríveis sensações positivas ou provocar pensamentos inéditos, pelo menos para nós. Enquanto o texto bem escrito pode ser extremamente enganador e superficial. Não deveríamos estar falando de livros mas sim do que os livros nos sugerem. Se aproximar da obra como vivência e menos como produto é o que nos permitirá fazer o livro cumprir o seu objetivo: ser um ponto de partida de relações e discussões, não um ponto final voltada à vaidosa valorização da autoridade do leitor e o seu (pretenso) bom gosto.

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Avatar de Rodrigo Casarin

Valeu pelo comentário, Lisandro!

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Avatar de Ferdinando Casagrande

Concordo plenamente, Rodrigo. Quando publiquei o meu primeiro livro, uma obra de não-ficção, um único crítico foi capaz de notar certas omissões que eu havia deliberadamente optado por não sanar e até hoje considero aquela a melhor crítica que recebi. Alguns amigos me perguntaram se eu não iria responder, explicar a intencionalidade, e eu simplesmente expliquei que estava grato pela imensa atenção que o crítico havia dispensado à leitura do meu livro. Todos temos direito à opinião, especialmente quando ela é bem fundamentada.

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Avatar de Rodrigo Casarin

E quem bom que você não virou um autor que sai por aí querendo explicar o próprio livro, Ferdinando rs

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Avatar de Eliane Moraes Galvão Porto

Concordo plenamente. Crítica bem feita não é aplauso automático. Apontar pontos considerados positivos ou negativos numa obra auxilia o leitor a formar sua própria opinião sem inibição.

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Avatar de Rodrigo Casarin

Valeu, Eliane!

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Avatar de Juliana Dias

Deus me livre não poder criticar os livros que leio. Isso me ajuda a me entender melhor. Quando penso sobre algo que me incomodou na obra, passo por um processo de autodescoberta.

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Avatar de Rodrigo Casarin

Essa reflexão que vai além da leitura sempre ajuda a melhorar nossa experiência com a literatura, né?

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Avatar de Luís Henrique Borba

Um professor sempre dava um conselho com relação à produção literária: desconfie de quem sempre lhe dá tapinhas nas costas…

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Avatar de Rodrigo Casarin

Sempre!

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Avatar de Oasys Cultural

Tem gente que é movida a elogios. Isso atrapalha muito.

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Avatar de Rodrigo Casarin

E é muita gente, hein!

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Avatar de Tiago Germano

É triste que ainda exista autor que ache que comentário crítico negativo é um "desserviço à literatura". Fiquei chocado quando ouvi esse comentário certa vez.

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Avatar de Rodrigo Casarin

Ouço umas três vezes por semana rs

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Avatar de Ariela K.

Acho que é bem por aí, Rodrigo (e obrigada por linkar para a minha newsletter).

Como escritora, claro que é mais gostoso receber elogio, mas também acho que a crítica negativa cuidadosa pode ser sinal de respeito. Afinal, apesar da escrita ser uma atividade na qual depositamos parte de nossa identidade, então qualquer crítica pode ser lida como um ataque a quem a gente é, ela é principalmente um ofício, no qual a gente se dedica para ser o melhor possível, de acordo com as nossas habilidades. Elogiar qualquer rabisco é coisa que a gente faz com crianças pequena, que ainda não tem estrutura emocional para lidar com outra coisa e precisa ser incentivada. Na escrita, é todo mundo adulto, e levar o trabalho a sério quer dizer estar aberto a melhorar.

Outro ponto é, como eu falei no meu texto, abrir uma conversa. Pacto de silêncio em relação às coisas que a gente não gosta dá ares de vaca sagrada, de algo que é precioso demais para falarmos algo negativo (às vezes, esse algo precioso demais é o ego do autor). Pro pessoal ler mais, acho que cabe também aceitar mais liberdade, se aprisionar menos em pode/não pode. Ninguém fica pensando se pode criticar série ou filme, e olha aí o audiovisual dominando as conversas da cultura do dia-a-dia.

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Avatar de Rodrigo Casarin

Valeu, Ariela. Gostei do seu texto principalmente por esse chamado ao diálogo, que tem nos faltado até quando é para falar bem de algo.

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Avatar de Ronaldo

Penso que não há, nem haverá, qualquer obra que agrade a todos.

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Avatar de Rodrigo Casarin

Provável que não.

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Avatar de Lucas Grosso

Penso que você está certo em apontar essa questão! Até na faculdade, no mestrado, existia essa ideia de que não poderíamos falar mal, porque era tudo uma questão de interpretação dos aspectos formais da obra, sob a teoria xpto de um filósofo francês x ou um crítico americano y.

E eu entendo esse ponto, mas acho que eu, e quase todo mundo da minha família, é, primeiro, um leitor não-especializado. Quer dizer, eu faço a segunda leitura olhando teoria literária etc., mas minha família que não estudou essas coisas? Não posso invalidar a opinião de um leitor que não gostou, né? Acredito que seja importante entender o que uma leitura negativa traz de relevante, o problema é ter medo de fazer ela publicamente...

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Avatar de Rodrigo Casarin

Pô, Lucas, sugira para esse pessoal da faculdade que defende o "não pode falar mal" ler o livro do Menino do Acre.

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Avatar de Lucas Grosso

Haha... Eu saí da academia, formalmente, tem uns 10 anos, lá tinha muitas burocracias, que tornavam os objetos de estudo meros detalhes (não é todo mundo, claro, mas a pessoa que chefiava o departamento, ne época era assim)...

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