Durante A Feira do Livro, que aconteceu na última semana aqui em São Paulo, tive a felicidade de mediar a conversa entre dois autores que admiro: o espanhol Jorge Carrión, referência para o meu trabalho, e a chilena Lina Meruane, autora de um dos livros que mais recomendei nos últimos tempos: “Tornar-se Palestina”.
O papo foi ótimo, vieram me dizer. Na mesa, às vezes fica difícil ter uma boa noção de se as coisas estão indo tão bem como a gente supõe. Mediar é estar permanentemente preocupado em ouvir respostas, administrar o tempo, prestar atenção no público, receber informações dos bastidores e pensar em perguntas que se encaixem bem na sequência da conversa e deem certa coesão à apresentação.
Em algum momento Lina falou sobre como brucutus também podem ser leitores dedicados. Há um mito de que leitura e virtuosismo caminham juntos. Quem dera. Não existe isso. Leitores podem ser tão odiáveis quanto pessoas que não leem podem ser adoráveis. Ler, por si só, não atesta nenhum caráter.
Durante sua fala, Lina lembrou do interesse de Augusto Pinochet por Karl Marx, em compreender as ideias básicas do comunismo e do socialismo. Não custa lembrar que Pinochet foi o principal carniceiro à frente da ditadura militar que aterrorizou o Chile até 1990, após o golpe contra Salvador Allende em 1973.
Estava sem caneta por perto, então na hora eu fiz uma anotação mental: Roberto Bolaño para a próxima dica de leitura da newsletter. Isso porque o chileno meio mexicano e totalmente latino-americano primou em meter a mão no elo entre boçais e intelectuais. O provocativo “A Literatura Nazista na América” é prova disso.
A dica de hoje, no entanto, é outra.