“A Vida que Ninguém Vê” é uma reunião de valiosas pequenas histórias escritas por Eliane Brum, das jornalistas mais admiráveis do país. Ali pelo começo do século, a repórter perambulava pelas ruas de Porto Alegre e cidades próximas para observar e conversar com pessoas muito vistas, mas pouco escutadas.
Eliane tem talento para encontrar o extraordinário onde muito enxergam apenas o corriqueiro. Assim, entrega aos leitores personagens como Dona Maria e a sua busca por, enfim, conseguir estudar. Ou Adail, carregador de malas que atuava no aeroporto e sonhava com o dia em que conseguiria voar num avião.
“A Vida que Ninguém Vê” é o segundo livro da carreira de Eliane. Saiu em 2006 pela Arquipélago e rendeu à jornalista o Jabuti de Melhor Livro de Reportagem no ano seguinte. Revisito a obra de tempos em tempos, até porque costumo trabalhar com ela em algumas oficinas que ministro. Sempre me emociono com o texto que escolho para ler com os alunos.
Nele, a jornalista constrói o perfil de Vanderlei, que tinha o costume de ir para uma feira de agropecuária montado em seu cavalo. Um cavalo bem peculiar. Um cabo de vassoura. Um cavalo-de-pau. Eliane busca compreender o universo íntimo daquele homem visto como louco por tanta gente do lugar. Um trecho do diálogo entre a autora e Vanderlei sempre me pega:
“Você sabe que isso é uma fantasia, que o cavalo é um cabo de vassoura. E mesmo assim galopa por aí num cavalo-de-pau. Por quê?”, pergunta Eliane.
A resposta de Vanderlei:
“Sem invenção a vida fica sem graça. Fica tudo muito difícil”.
Da Biblioteca: “A Vida que Ninguém Vê”, de Eliane Brum (Arquipélago, 2006). Vale a leitura.
Esse livro é de uma beleza e delicadeza que merecem ser revisitadas sempre
que frase! não conhecia esse trabalho dela 🧡