Revirar o próprio passado ✍️
Como foi reencontrar o que fui e compreender como me tornei o que sou para escrever "A Biblioteca no Fim do Túnel"
“Nesta deliciosa coletânea de textos sobre livros, leitura, escritores e leitores, Rodrigo Casarin exercita, com lucidez lúdica, o que ele mesmo definiu como norte de seu trabalho: ‘contar histórias sobre o que encontro nos livros ou no universo que os orbita.’
Sempre atento às discussões contemporâneas sobre literatura e às demandas político-culturais do nosso tempo, ele percorre obras e autores de diversas épocas e procedências, discute diferentes formas de leitura, expõe suas próprias inquietações enquanto leitor e, dessa maneira, nos leva a uma viagem descontraída pelo mundo dos livros”.
É assim que começa o texto que estará na orelha de “A Biblioteca no Fim do Túnel - Um Leitor em Seu Tempo”. A querida Maria Esther Maciel, escritora, pesquisadora e crítica literária das que mais admiro, assina essa apresentação do livro que lançarei em breve.
Sim, “A Biblioteca no Fim do Túnel” está quase pronto. Semana que vem a Arquipélago disponibilizará a pré-venda da obra. Avisarei vocês, claro.
Olhando para os artigos selecionados, editados, diagramados, lembrei da conversa com um amigo quando a ideia começou a pipocar na cabeça. Falei que estava revisitando meus escritos para ver se alguma coisa se salvava a ponto de justificar um livro. Se nada prestasse em mais de 2 mil arquivos, seria melhor eu desencanar da profissão, ele respondeu. Ri e concordei.
Muitas coisas se salvaram, como contei na edição retrasada da newsletter. “A Biblioteca no Fim do Túnel” virá, outros livros com novos recortes poderão vir. Muitas opiniões, notas, notícias foram descartadas porque só importavam mesmo para o exato momento em que foram publicadas. Mas tem ainda uma outra categoria de textos revisitados.
Em quase dez anos publicando no mínimo duas vezes por semana, normal que tenha feito matérias ou colunas apressadas, com linguagem descuidada ou opiniões que depois consideraria equivocadas, com eventuais ideias de literatura que hoje eu mesmo questiono. Em alguns casos raros, confesso, deletava o arquivo tão logo batia os olhos em seu título; imediatamente lembrava algum aspecto que me fazia preferir que o texto ficasse no passado mesmo, perdido pela internet.
O que chega ao livro é um pedaço do trabalho que já passou por um bom processo de reflexão, validação e edição. Nesse mergulho na própria produção, interessante sacar como, com o passar dos anos, as ideias se tornaram mais complexas, o olhar para a literatura ficou mais diverso, certos interesses se solidificaram enquanto outros apareceram.
Um pouco disso poderá ser notado, creio, quando o leitor comparar textos antigos com outros mais recentes que estarão em “A Biblioteca no Fim do Túnel”. O amadurecimento no estilo da escrita, que com o passar dos anos fica mais segura, mais solta, também poderá ser observada.
Escrever um livro desses também tem sido uma interessante oportunidade de reencontrar o que fui e compreender como me tornei o que sou. E fico curioso para saber o que serei. Espero que a caminhada siga tão boa, tão enriquecedora, tão divertida quanto tem sido até aqui.
Salvar a crítica
Vocês acompanharam os debates sobre a recepção crítica de “Salvar o Fogo”, novo romance do Itamar Vieira Junior (Todavia)? A crítica literária Lígia Diniz resenhou com atenção e rigor a obra para a Quatro Cinco Um - e depois falou a respeito do escritor em redes sociais. Itamar não gostou e rebateu com uma coluna na Folha.
A treta já está um pouco passada, sei disso. Mas a resgato para recomendar esse vídeo do camarada Yuri Al’Hanati, do canal Livrada!
Em tempo, aqui a minha resenha de “Salvar o Fogo”, uma das primeiras publicadas sobre o livro.
Llosa e a goteira de Borges
Um dia, em 1981, Mario Vargas Llosa foi à casa de Jorge Luis Borges em Buenos Aires para fazer uma entrevista com o grande escritor argentino.
Llosa ficou surpreso com o lugar onde Borges morava. Era um apartamento simples, pequeno, com pouquíssimos livros. Borges já era cego a essa altura da vida, importante lembrar.
Depois, ao publicar a entrevista num jornal, Llosa registrou suas impressões sobre o lugar. Reparara nas manchas de infiltração do teto e mencionou que havia uma goteira na casa do autor de “O Aleph”.
Borges não gostou. Comentou com seus amigos que, tempos atrás, havia recebido a visita de um peruano que certamente deveria trabalhar em uma imobiliária.
A história com mais detalhes está aqui.
De Caetano para Jorge
É um alento esse vídeo de Caetano Veloso recebendo a notícia da morte de Jorge Amado no intervalo de um show e, na sequência, homenageando o autor de “Capitães da Areia”.
Tradução do Mundo
Outro dia, ao escrever sobre livros que mereciam mais leitores, mencionei “O Ruído das Coisas ao Cair”, do colombiano Juan Gabriel Vásquez (Alfaguara). Teve gente que foi atrás, gostou e me escreveu para agradecer pela indicação. Agora estou de olho num outro livro do cara.
Falo de “La Traducción del Mundo”, que acaba de ser publicado em espanhol pela Alfaguara. É uma reunião de quatro conferências que Vásquez apresentou na Universidade de Oxford no final do ano passado. Nelas, o autor reflete sobre a capacidade da ficção literária traduzir, iluminar e forjar o mundo.
Vamos dar atenção ao Juan Gabriel Vásquez, editores brasileiros?
📢 O que mais rolou na Página Cinco
📝 Números apontam: precisamos de mais leitores.
📝 Todo bom leitor merece ler Cormac McCarthy.
🎙️ Ana Elisa Ribeiro e as encrencas da nossa língua:
📝 Resenha de “Poco Hombre - Escritos de uma Bicha Terceiro-Mundista”, do chileno Pedro Lemebel (Zahar).
📝 Dica de documentário sobre “Os Miseráveis”, clássico de Victor Hugo.
🎙️ O desafio de biografar Machado de Assis no papo com Cláudio Soares:
História da arte em 20 minutos
Estou ficando com muita vontade e curiosidade de ler esse livro hein?