✍️ O trabalho que dá escrever um livro já escrito
Um pouco sobre a escrita de “A Biblioteca no Fim do Túnel - Um Leitor em Seu Tempo”
Não parecia uma ideia tão complicada: reunir em um livro textos feitos ao longo da carreira como jornalista que escreve sobre livros. A coisa começou a complicar quando me dei conta do quanto produzi nos últimos dez anos. Precisei revisitar cerca de 2 mil arquivos para ver o que permanecia de pé.
Boa parte das notas, notícias, reportagens, entrevistas, resenhas, ensaios, dicas cumpriram sua função assim que chegaram aos leitores. Fim. Uma parcela menor, no entanto, talvez merecesse uma vida mais longa. Com essa mirada que cheguei nuns 400 textos.
Daí começa-se a pensar nos recortes possíveis. Livro sobre literatura e futebol? Não. Sobre livros e corrida? Quem sabe um dia. Um de entrevistas com escritores poderia ser interessante, ainda mais usando o material do podcast.
Os olhares para a literatura brasileira contemporânea com certeza renderiam uma coletânea. Algo sobre literatura latino-americana feita em outros países também. Reunir escritos sobre obras e autores do Brasil e de seus vizinhos seria mesmo legal. Quem sabe num outro momento.
O caminho escolhido para esse primeiro recorte. Será um livro que fala sobre livros. Vai se chamar “A Biblioteca no Fim do Túnel”. O subtítulo será “Um Leitor em Seu Tempo”. Sairá pela editora Arquipélago. Se tudo caminhar conforme o previsto, ali por julho teremos a pré-venda e em agosto chegará aos leitores. O meu exemplar ficará numa das minhas prateleiras favoritas, ao lado de gente como Irene Vallejo e Alberto Manguel - colegas que, aliás, estarão pela coletânea.
Será dividido em três partes. A primeira trará reflexões sobre a leitura e a relação com os livros. Tempo entre as páginas, o papo de obra favorita, tentativas de domar a biblioteca, fracassos e marcos na caminhada como leitor. Tudo isso entrará aqui.
A segunda parte reunirá textos nos quais parto da literatura para iluminar aspectos desse conturbado mundo em que estamos metidos. Nesse capítulo a ideia da biblioteca como saída para esse túnel escuro fica bem evidente, creio.
Na terceira, olho com mais calma para algumas obras e autores, mas sem deixar de lado o que se passa para além das páginas. Quem acompanha meu trabalho sabe que minhas leituras sempre estão em atrito com o cotidiano.
Parti de uns 2 mil textos. Cheguei nuns 400. Conversei aqui e ali. Encontrei o recorte. Selecionei os textos. Tudo pronto? Que nada. Foi já com a ajuda do Tito e da Débora, editores da Arquipélago, que o livro começou a tomar forma mais nítida.
Um longo processo de troca de ideias, sugestões, cruzamento de olhares, convergências e divergências sobre esses textos que nos fizeram chegar nos quase 60 selecionados.
Depois disso, mais trabalho: edições pontuais, revisões, uma adequação ou outra, pequenas alterações para melhorar os textos sem mexer na essência de cada um deles.
Por fim, material inédito: a abertura dos capítulos e as notas que dialogam com alguns dos escritos sobreviventes. Isso para não falar da contribuição de outros profissionais pensando em capa, ilustração, revisão, projeto gráfico, diagramação, orelha, posfácio, divulgação…
Espero que vocês gostem de “A Biblioteca no Fim do Túnel - Um Leitor em Seu Tempo” da mesma forma como estou curtindo me empenhar em todo esse processo.
Escrever um livro dá um trabalho danado, mesmo quando boa parte dele já estava escrito.
Já leram?
O ruído de Ariana
Os romances de Ariana Harwicz impactam, incomodam, desafiam. Em “Degenerado”, o último a sair por aqui, é com a própria moral que leitores acabam se debatendo numa ficção em que mergulhamos na mente desenfreada de um pedófilo. Eis o que escrevi a respeito.
É sobre a busca pela liberdade e independência artística numa época de patotas, patrulhas e cancelamentos que Ariana reflete em seu novo livro: “El Ruido de una Época”, ensaio publicado pela editora argentina Marciana.
Merece a leitura essa matéria do Página 12 sobre o trabalho. O livro chegará por aqui no primeiro trimestre do ano que vem, pela Instante, casa de Ariana no Brasil.
Antonio Candido
Está bem bom esse episódio do 451 MHz sobre o legado de Antonio Candido. Vale ouvir o que o crítico literário Sérgio Alcides tem a dizer:
Vanguardas latino-americanas
Extrapolando a literatura, também vale escutar esse episódio do Hora Americana sobre vanguardas artísticas na América Latina:
☕️ Um café
Gosto da Roast, torrefação de Belo Horizonte. Acho que outro dia recomendei um dos cafés da linha de entrada deles. Hoje vou para outra ponta. Os caras têm alguns grãos etíopes para vender. São bem caros, mas o que eu provei é muito bom. Falo do Yirgacheffe Kochere Banko Gotiti.
📚 O que vem por aí
Li e gostei de “Casas Vazias”, romance de Brenda Navarro que saiu por aqui no ano passado pela Dublinense (em breve soltarei a resenha na coluna). Agora vem aí um novo livro da mexicana: “Cinzas na Boca”, que já está em pré-venda.
No centro de uma trama sobre imigração e vida às margens da sociedade, uma jovem que vai para a Espanha junto com o irmão em busca da mãe ausente. Tenho vontade de ler esse romance desde que escutei Brenda falar a respeito dele no podcast Paredro.
Dialoga com o que escrevi numa edição da newsletter sobre autoras mexicanas:
📚 O que chegou por aqui
Busca pela construção de uma sociedade laica, ascensão do discurso científico e da psicanálise, hipocrisia de pessoas importantes ligadas à religião, preconceitos, gênero e sexualidade. São elementos que ajudaram “A Menina que Não Fui”, de Han Ryner, a sobreviver a um século e chegar até nós.
Lançado originalmente na França em 1903, ele acaba de ganhar sua primeira edição brasileira pela Ercolano. Tradução de Régis Mikail, prefácio do grande João Silvério Trevisan.
Um papo com o Trevisan:
🥃 Uma cachaça
Tem mais gente por aqui que joga vôlei?
Em quadra, sempre bom ter em mente quem é a pessoa da bola de segurança. Aquele oposto, aquela ponteira para quem passamos o problema nas horas mais complicadas.
Pelos botecos da vida, a Claudionor, mineira de Januária, costuma ser a minha cachaça de segurança.
Fácil de achar, bom preço e qualidade admirável. Ando empapuçado de amarelinhas que passam por amburana, mas nessa aqui a madeira é discreta, as marcas da cana seguem vivas.
📢 O que mais rolou na Página Cinco
📝 O privilégio de viver no mesmo mundo em que Laerte.
🎙️ Baleia e outros grandes animais na literatura: papo com Maria Esther Maciel:
📝 Lendo os mais vendidos: resenha de “Amêndoas”, de Won-pyung Sohn.
📝 O que faz um livro no circo das celebridades virtuais?
🎙️ Formas de lutar contra a escravidão: papo com o quadrinista Marcelo D’Salete, autor de “Angola Janga” e “Mukanda Tiodora”:
Parabéns pelo seu Livro, Rodrigo. Que faça uma bonita carreira. ♡
Oba, teremos livro! Ah, aqui é a Paula Maria, batemos papo na calçada da ponta de lança no lançamento do Nilton. Beijo