O livro de estreia e outros livros que já fiz
Gosto do que escrevi na categoria de base, mas agora a coisa é diferente.
Em agosto chegará às livrarias “A Biblioteca no Fim do Túnel: Um Leitor em Seu Tempo”. A pré-venda já começou. Publicado pela Arquipélago, será o meu livro de estreia. Mas uma curiosidade: esse não é nem o primeiro nem o segundo livro que faço.
Durante alguns anos trabalhei numa editora de livros sob encomenda. O foco estava em escrever biografias familiares e histórias de empresas. Assinávamos contratos para colocar no papel a vida daquela avó querida, os momentos decisivos de algum negócio.
Tudo sempre muito próximo da visão do dono, da família, daqueles que encomendavam e, no final, aprovavam o texto, bancavam a impressão e pagavam as prestações. O trabalho tinha o seu valor. Foi bom ganhar alguma intimidade com o mundo empresarial, observar egos, como pessoas buscam polir as próprias histórias.
Serviu também para exercitar a escuta, o planejamento de um livro, a escrita, a edição, acompanhar processos gráficos, lidar com algumas planilhas. Escrevi e editei um punhado de títulos nessa fase da vida.
No entanto, não eram histórias que escolhia contar nem textos em que poderia fazer o que bem entendesse. Não vejo nenhum desses livros como um trabalho autoral, como uma peça que poderia ajudar a compor uma obra realmente minha, com meu olhar, meu modo de encarar o mundo.
Diferente de um outro que já escrevi, este numa época ainda mais remota. Meu TCC foi um livro com perfis de seis ou sete artistas do movimento punk de São Paulo. Estão por aquelas páginas nomes como o admirável Clemente, dos Inocentes, e o saudoso Redson, do Cólera.
Escrevi “Punk - O Protesto Não Tem Fim” em coautoria com Igor Antunes Penteado, o Gugu, daqueles amigos raros de se encontrar. Feito quando tínhamos nossos 19, 20 anos, é um livro com marcas da juventude, o que não ofusca as boas lembranças que o trabalho me traz.
Fizemos uma edição impressa numa gráfica qualquer com tiragem de 100 exemplares. Evaporaram na mesma noite em que festejamos a nota 10 tirada diante um auditório com mais de 150 pessoas. Correu um boato pela faculdade de que era um TCC que valia a pena ser visto e lido.
Digamos que gosto do que fiz na categoria de base e que o trabalho em ligas paralelas me ajudou a ganhar experiência. Agora a coisa é diferente.
“A Biblioteca no Fim do Túnel: Um Leitor em Seu Tempo” marca minha estreia por reunir alguns elementos fundamentais. É um livro autoral, publicado e trabalhado por uma editora relevante, que investiu tempo e grana para que a obra chegue às livrarias e alcance o maior número possível de leitores.
Como é normal numa estreia, a ansiedade vem junto. Sigo na expectativa para saber se vocês, leitores, ficarão satisfeitos com o que irão encontrar em “A Biblioteca no Fim do Túnel”. Espero e aposto que sim 🙂
Tenho Medo Toureiro
Outro dia, na coluna, escrevi sobre “Poco Hombre - Escritos de Uma Bicha Terceiro Mundista”, reunião de crônicas do chileno Pedro Lemebel que acabou de sair pela Zahar (tradução de Mariana Sanchez).
Alguns leitores, então, me recomendaram não apenas o único romance de Lemebel, “Tengo Miedo Torero”, mas também a adaptação da obra para o cinema, disponível no Prime Video.
Pois bem. Vi, gostei e também recomendo Tenho Medo Toureiro. É um filme com inequívocas marcas de Lemebel.
E tem papo com a Mariana Sanchez lá no podcast sobre a boa onda da literatura latino-americana:
Spoiler
Alguém aí melindra com spoiler?
Pois olha o que a colega
escreveu sobre o assunto em sua coluna na Folha:Quando um crítico literário escreve seriamente sobre uma obra de ficção, ele procura lidar com algumas dessas inquietações do leitor e, por isso mesmo, quase sempre acaba recorrendo a alguns eventos do livro para esmiuçar como e por que um tema específico foi desenvolvido naquele determinado contexto.
[...]
Cada leitura é única e nem todos chegamos à mesma conclusão sobre o que acontece em um livro.
É por isso que os leitores menos experientes não devem se deixar frustrar por aquilo que talvez considerem ser uma indiscrição da crítica literária. Os críticos somente propõem que, em algum momento, todos se tornem capazes de participar dessa mesma longa e franca conversa a respeito dos livros que amamos.
Não poderia concordar mais com a Juliana.
E você, o que pensa do assunto?
Kundera
Autor de “A Insustentável Leveza do Ser”, o escritor checo Milan Kundera morreu nesta semana, aos 94 anos. Gostei do artigo escrito pelo
por conta dessa perda. Um trecho:Milan Kundera, de sua pequena nação sempre perigando desaparecer, tendo passado pela Segunda Guerra e pela ocupação alemã, pelo domínio soviético e pelo exílio político, pela diáspora e pela troca de idioma, é o escritor perfeito para nos ensinar, em sua prática ficcional e em seus ensaios literários, que o humor expõe e revela, salva e redime.
As editoras
O ótimo caderno Pensar, do Estado de Minas, fez um especial ouvindo diferentes mulheres à frente de importantes editoras do país. Estão por lá nomes como Maíra Nassif, da Relicário, e Rejane Dias, da Autêntica. Tem também um artigo da Ana Elisa Ribeiro sobre mulheres na edição.
Indispensável para quem quer conhecer melhor o que se passa nos bastidores do mercado editorial.
E tem papo com a Ana Elisa no podcast:
Fernanda Melchor
Já tem mais de dois anos, desde que li e escrevi a respeito de “Temporada de Furacões” (Mundareú, tradução de Antonio Xerxenesky), que prego o nome de Fernanda Melchor por aí.
Parece que agora mais gente tem dado atenção para autora que recentemente lançou seu segundo livro no país, “Paradáis” - também da Mundareú, tradução de Heloísa Jahn, outro resenhado na coluna.
O Suplemento Pernambuco publicou um perfil da Fernanda escrito por sua xará, Fernanda Lobo. Bom texto para quem quer compreender algumas questões caras à literatura de Melchor.
Fernanda Melchor, aliás, foi um dos destaques na edição da newsletter em que falei sobre o interessante momento da literatura mexicana por aqui:
🍾Um vinho
Outro dia peguei uma promoção de um espumante de Portugal de cento e tantos por 40 e poucos reais. Era o Praça dos Marqueses rosé, que infelizmente está deixando de ser importado para cá. Seria excelente encontrá-lo sempre ao preço promocional.
Trago a dica para extrapolar o rótulo em si e falar dos espumantes rosados feitos com a uva baga. São portugueses que realmente valem ser provados. Vinhos delicados e com personalidade feitos a partir de uma casta bem difícil de ser domada.
A baga também rende excelentes tintos que dão fama à região de Bairrada.
📢 O que mais rolou na Página Cinco
📝 Pagu como homenageada da Flip e a chance de conversarmos sobre arte engajada.
📝 Resenha de “Meu Irmão, Eu Mesmo”, de João Silvério Trevisan.
📝 A ideia com jeitão de cilada de usar ChatGPT para acelerar a leitura.
📝 O morre-não-morre de Quincas Berro D’Água, digo, da Livraria Cultura da Paulista e o espaço vago no imaginário do público.
Oi Rodrigo, tem uma plataforma que analisa obras de arte, se você assinar a newsletter eles te enviam as análises diariamente. E a obra analisada hoje é esta pintura do Caravaggio. Ah, é em espanhol 😉 https://historia-arte.com/obras/san-jeronimo-escribiendo
eu gosto muito da sua escrita, com certeza vou adquirir um exemplar do seu livro de estreia. já me chamou a atenção a batalha para vencer cem anos de solidão pois estou nela há uns anos, rs.