Flip: modo de usar (versão atualizada)
Leve galochas, cuide do bolso, aproveite a praça
Neste ano vocês não me verão por Paraty durante a Flip. Não durante todos os dias, pelo menos, a não ser que alguma boa novidade pinte até lá.
Por enquanto, minha ideia é fazer um bate-volta de ônibus no sábado, quando dois dos autores que mais me interessam estarão na programação principal. Falo da argentina Gabriela Cabezón Cámara, de “As Aventuras da China Iron”1, e do senegalês Mohamed Mbougar Sarr, de “A Mais Recôndita Memória dos Homens”2.
Pensando em quem vai ou planeja ir para a Flip, que rolará entre os dias 9 e 13 de outubro, resgato e atualizo as minhas dicas para curtir a festa:
O principal: vá leve, vá solto.
O que isso significa? Dê uma boa olhada na programação principal. Pesquise com uma atenção ainda maior e gigantesca programação paralela. E não seja afobado.
Tenha uma ideia do que quer realmente ver, mas não se atole de compromissos, não crie uma agenda sem espaço para nada. As ciladas também são muitas. Uma das coisas mais legais é circular pelas ruas de Paraty e, meio que ao acaso, descobrir momentos singulares. Rigidez e estresse com um mundo de compromissos não combinam com a ideia de festa.
Não é porque um escritor se apresenta por lá, seja na grade principal ou paralela, que automaticamente é bom, por melhor que seja seu discurso, por mais encantadora que seja a pessoa. Conversa no palco é uma coisa, literatura é outra. Participar da Flip não é um selo inquestionável de qualidade. Não baixe a guarda, leitor, mantenha o senso crítico. É festa, mas não precisa se deslumbrar com tudo.
Não fique enfurnado num canto só. A pior maneira de acompanhar a Flip é se encher de ingressos caríssimos para a tenda da programação principal e passar os dias entocado num espaço que pouco dialoga com seu entorno. Para essas mesas, negócio melhor é aproveitar o telão da praça. Ali que dá para trocar ideias e beber alguma coisa enquanto ouve os convidados e esbarra com outros escritores.
Apesar da multidão pelas ruas, principalmente na sexta e no sábado, os encontros de fato acontecem. Sim, haverá gente mala com ar blasé. Mas também haverá muita gente legal, que sabe ser possível falar de literatura sem pompa ou cerimônia. Deixem o blazer em casa.
Se tiver galochas, leve. Pelo menos você estará preparado caso caia a chuva que caiu no ano passado, quando o evento aconteceu no final de novembro. Recarregue o celular sempre que possível, assim você se previne em caso de apagão, o que também rolou em 2023, uma edição com momentos caóticos.
Passou na frente e viu o Montañita meio vazio? É a deixa para tomar o melhor café do Centro Histórico.
Vá com o fígado preparado. Beba água e se alimente para aguentar também a maratona etílica, não apenas a literária.
Aproveite para aprender algo sobre cachaça nas degustações ligeiras das lojas. A Maria Izabel é boa mesmo, histórica, mas há outras locais tão gostosas quanto – e mais em conta. A Coqueiro armazenada em amendoim, branquinha, e a Engenho d’Ouro maturada em barril de jequitibá, levemente amarelada, estão entre as minhas favoritas.
São preciosos os finais de tarde e as noites nos botecos, onde as conversas tomam caminhos bem mais livres – e mais inusitados, conforme as garrafas esvaziam.
Desde o ano passado há uma unidade da Grand Cru perto da praça principal, ao lado da ponte. Acredite: pode ser mais satisfatório e barato tomar vinhos e espumantes razoáveis por lá (ou pegar uma garrafa e procurar seu canto) do que cervejas mornas em diversos bares.
Dá para economizar bons trocados comendo em restaurantes pelos arredores do Centro Histórico, fugindo das ruas de pedra. O meu favorito fica pertinho da rodoviária. Falo do Ístanbul, que serve uma ótima comida turca (vá com paciência, às vezes o serviço é demorado).
O mesmo vale para a hospedagem: os preços são um pouco mais baixos nos arredores, não exatamente no Centro Histórico. Só não recomendo ficar longe demais. O ideal é fazer tudo a pé. Numa cidade mais violenta do que muita gente supõe, é mais seguro ficar por perto da bolha onde a Flip acontece.
Tem mais dicas? Diga nos comentários!
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Curso sobre newsletters
Uma novidade bem legal para compartilhar com vocês!
No começo do ano que vem vou ministrar na LabPub um curso online sobre newsletters.
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Aqui estão todos os detalhes do curso e o caminho para a inscrição.
📢 O que mais rolou na Página Cinco
📝 Papo mofado nas ruas e brucutu no poder: uma história que soa familiar - resenha de “Diário Inquieto de Istambul”, de Ersin Karabulut (Comix Zone)
📝 Uma cidade emporcalhada perdida na fumaça
📝 Bispos, coachs e festa da literatura juvenil: notas sobre a Bienal do livro de São Paulo
📝 Felipe Neto na Flip: o que pensar
🎙️ A literatura e a sensibilidade de Virginia Woolf - papo com Mell Ferraz:
Moinhos, tradução de Silvia Massimini Felix
Fósforo, tradução de Diogo Cardoso
Eu tenho uma dica pra acrescentar: comer o manuê de bacia, um bolo de melado típico de Paraty. Tem no Café Pingado, no Centro Histórico!
Se tiver tempo, faça um tour pelo centro histórico com um guia local. É muito interessante e leva um par de horas, no máximo...
Na pousada onde ficamos, a proprietária, a Tête, nos indicou um guia excelente com vínculos familiares com a cidade e seu entorno, ele é sobrinho do Amyr Klink. Não lembro do primeiro nome dele mas não deve ser difícil encontrar.