Uoooooooouuuuuu 🚨
Opa, opa, opa. Encostando, encostando.
Onde você vai com isso daí? Como assim esse livro? Como assim essa análise? E essa abordagem? Pensa que tá onde?
Não achou a literatura da Vanessa Barbara tudo isso? E ainda ousou elogiar um livro da Todavia? De que lado você está, afinal?
Não, não, não. Pode parar, pode parar. Trate de se explicar. Vamos, anda logo. Quero ver você se defender disso…
Ah, tá de brincadeira que você vai ler esse autor.
Kafka está cancelado, sabia não? Que decepção vê-lo com “A Metamorfose” em mãos.
E a bandeira? E a causa? E o mundo melhor?
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O quê? Você vai ler Itamar Vieira Junior, Sally Rooney, Miranda July, Carla Madeira ou qualquer outro autor hypado? Não acredito!
O quê? Você não vai ler Itamar Vieira Junior, Sally Rooney, Miranda July, Carla Madeira ou qualquer outro autor hypado? Não acredito!
Colleen Hoover hahahahahaa. Tá de sacanagem, né? Pra que ler isso? Todo mundo sabe que se vende tanto é porque não presta. Entender o que tanta gente tem buscado na literatura? Pffff que bobagem.
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Final de semana de imersão com leitores. Entre uma atividade e outra, um camarada averigua se a distância é segura. Parece que sim.
Sussurra: Você gosta de Houellebecq? Olha para o lado para se certificar de que mais ninguém escutou.
Uma colega foi ainda mais discreta. Esperou o momento adequado para, coincidência, fazer a mesma pergunta: gosta do Houellebecq?
Sim, sim. Eu assumo, eu confesso. Adoro a literatura daquele patife desgraçado!
Mas falemos baixo. A polícia da leitura está sempre rondando por aí. É preciso estar atento.
Clube de Leitura Página Cinco
Em fevereiro nós tivemos um excelente papo sobre “Detalhe Menor”, da palestina Adania Shibli (Todavia, tradução de Safa Jubran).
Os próximos livros do Clube de Leitura Página Cinco também prometem gerar bons encontros.
No dia 28 de abril, às 20h, conversaremos sobre “A Casa de Barcos”, de Jon Fosse (Fósforo, tradução de Leonardo Silva Pinto).
Já em junho, papearemos sobre “Te Dei Olhos e Olhaste as Trevas”, de Irene Solà (Mundaréu, tradução de Luis Reyes Gil).
O Clube de Leitura da Página Cinco é exclusivo para os leitores que contribuem com uma grana para a newsletter. Aqui está a relação dos livros que já lemos.
Espero que você possa se juntar ao Clube. E se não puder ou não quiser participar, mas vê valor no meu trabalho, considere colaborar com a Página Cinco.
Reducionismo
“A opinião sobre uma obra é cada vez menos formada pelo que sentimos combinado à nossa capacidade de exercer nosso pensamento crítico, e mais pela maneira como meus pares aprovam ou não, entendem ou não, determinado filme…
Para piorar, as discussões levam a uma personalização da obra: se você gosta de um filme que eu entendi como machista, logo você endossa o machismo. Como se o filme não tivesse a capacidade de ser, pasmem, um filme e, como tal, não fosse a obra diversas vezes passível e até mesmo digna de avaliações menos reducionistas que essas” - da
Bolaño e o fracasso
“Talvez por isso a literatura do Bolaño incomode tanto. Já vimos que o fracasso é uma de suas grandes obsessões e que ele enxerga na derrota um elemento inevitável da condição humana. E, se a literatura reflete a vida, também ela seria um campo de batalha fadado ao fracasso. Para Bolaño, a arte, longe de ser uma atividade nobre ou idealizada, é um território de conflito e exploração” - da Eliz Oliveira.
Não há glamour na literatura
“Tiene sentido que las estrellas de Hollywood se vistan de smoking para los Oscars, porque representa su estatus social, pero en los Goya la mayoría del vestuario es puro disfraz de clase. Puro delirio aspiracional. Esa es la clave para entender por qué tanta gente quiere escribir y publicar” - do
Annie Ernaux
"Na escrita, não bastam ideias, é preciso torná-las sensíveis. Essa é a diferença entre uma obra literária e uma filosófica... A literatura fala à sensibilidade, ao inconsciente".
“Agora eu sou uma marca. Quem é convidada não é a escritora, é ‘a Prêmio Nobel’. Não quero viver minha velhice assim”.
O Ruan de Sousa Gabriel visitou a Annie Ernaux(!) e voltou com esta entrevista.
📢 O que mais rolou na Página Cinco
📝 A leitura como fonte de todo prazer: os dez anos da Página Cinco
📝 Indiebookday: um dia para as livrarias e editoras independentes
📝 Dor e ternura: os animais que ficam para trás quando um país colapsa
📝 A Feira do Livro: Lina Meruane, Afonso Cruz e outros nomões confirmados
Tô me sentindo chique demais de ter sido citada nessa Newsletter tão querida (e a polícia da leitura dá muita preguiça, gente, vamos apenas ler.)
Uma chatice isso, viu? Há cobrança também no meio musical, de ter de parar de ouvir o artista X ou Y porque ele tem um posicionamento assim ou assado.
Eu me recuso a abrir mão de minha memórias afetivas musicais para agradar militância. Vou sim continuar ouvindo Nana, Fagner e Edson Gomes. De jeito nenhum vou me desfazer ou quebrar meus discos. Jamais!
Adorei o texto, Rodrigo.
Um beijo.