Li sua news numa tacada só e vou escrever do mesmo jeito, pra não perder a empolgação. Sou livreira numa cidade do interior de São Paulo e tenho pensado muito a respeito disso também. E, conversando com um editor de uma editora pequena de títulos infantojuvenis a respeito da ideia minha e de alguns produtores culturais locais sobre fazer uma feira do livro aqui, ele foi bem sincero: "não devia dizer isso, mas acho que as feiras estão tirando o espaço fundamental de vocês livreiros. As editoras, ao participarem dessas feiras, tomam este espaço de venda direta que seria de vocês. Tentar fortalecer as livrarias de rua seria sim um movimento muito mais interessante". E isso me fez repensar esse lado das feiras. Porque acho, aí puxando a sardinha pro meu lado, que as livrarias de rua têm de fato um papel super importante para angariar e fidelizar leitores, é onde eles podem não só comprar (como acontece numa feira), mas receber orientações, trocar impressões, e voltar sempre que quiser. Vejo por mim, minha livraria não é fixa, é itinerante e só trabalho com títulos infantojuvenis, e tenho prezado por escolher editoras menores, com um trabalho mais cuidadoso, e vejo que há sim público para isso, e não só de crianças, acabo vendendo muito para adultos que conseguem, como eu, ver nesses títulos um trabalho primoroso de texto e arte. E isso só é possível porque na livraria, temos tempo de conversa, é clima de restaurante a la carte e não fast food de praça de alimentação. Enfim, ótimo ponto levantado e agradeço demais por usar seu palanque para levantar tais discussões. Um abraço!
Além das filas de bienais e recorde de vendas de alguns autores, me chama a atenção a quantidade de gente falando (e mostrando fotos) das pilhas de livros "lidas no mês". Para algumas pessoas, ler virou uma competição que precisa de posts comemorativos.
Tem que olhar o alardeado sucesso dessas bienais com lupas bem rigorosas. Quais são exatamente os livros que venderam mais? Qual a qualidade literária desses livros? Tenho certeza de que a resposta da primeira pergunta é inversamente relativa à segunda, com raríssimas exceções. Outras perguntas: quem vai a essas bienais? São excursões organizadas por prefeituras e escolas que ganham dinheiro com isso? Ou é gente que vai espontaneamente? Enfim, a pauta é boa, faz bem levantar essa lebre, mas ja estive em várias bienais e meu veredito é: são caça-níqueis do tipo CCXP. Não tem muito a ver com arte e literatura.
Não há como discordar. Apenas pensar nas bienais como as convenções anuais de grandes empresas. É uma festa e uma “amostração”. Você vai porque é melhor ir do que não ir. Sabe que vai ser correria, cansativo, muitas vezes bagunçado… mas até pode rolar um bom networking, um contato, uma ideia, e, pra alguns privilegiados, um premiozinho (no caso, ficar entre os mais vendidos).
Excelente, como sempre, né... E lá vou eu para mais um dever de casa: desvendar a brilhante construção da passagem do tempo em “Nem Mesmo os Mortos”, de Juan Gómez Bárcena. Abraço, camarada. Sigamos. Com esperança ativa e pés no chão.
Eu penso que, em termos gerais, o Brasileiro Médio não gosta mesmo de ler. Sem preconceitos e com base em dados de pesquisas recentes que foram veiculadas na Mídia, grande parte da população brasileira sequer folheia um livro. Eu compro livros, leio cada um deles, resenho e valorizo cada item da minha biblioteca. Jamais compraria por comprar e deixar guardado "para uma leitura futura"; eu monto um esquema, leio um livro diferente por dia e sigo assim o meu Caminho como leitor. Seria leviano de minha parte falar de quem compra de cinquenta a cem livros em uma Bienal, cada pessoa vai saber qual é o propósito da aquisição de cada um; e seria duplamente leviano julgar quem eu não conheço como "verdadeiro" leitor ou não. Somente posso falar de minha própria experiência, é o mais justo a fazer, e repassar um dado de pesquisa que não é uma Fake News.
Essa Bienal é como um Conto irônico do Machado de Assis, onde a piada já começa a partir da própria proposta de um Evento dentro de um país onde grande parte da população sequer folheia um livro.
excelente. Me chamou a atenção uma matéria ao vivo feita pela GNews diretamente do evento, bem lotado. A supremacia das mulheres em toda a imagem do evento. Elas dominando, tanto na escrita, quanto frequentando o evento.
Acho que as bienais tem o frisson de um “shopping só de livros” e, em tempos de rede sociais (e tbm da nova moda de adquirir capital cultural), gera muito engajamento dizer que foi a bienal e postar sua pilha de livros comprados.
E como você bem disse: comprar é diferente de ler.
Esse ano optei por não ir depois que via as imagens de stands abarrotados. Gosto do silêncio das livrarias e de procurar livros com calma. Infelizmente não podia ir durante a semana, então desisti.
a gente precisa investir bem mais na formação de leitores, despertar o interesse dos jovens por livros. e, depois, fomentar a manutenção desses leitores, criar espaços para que os adultos não percam o hábito de ler, para que não sejam tragados por outras atividades e acabem abandonando os livros.
Boa reflexão, Rodrigo. Um dado (empírico) que me intriga é o fato de que os "produtores" da literatura brasileira contemporânea, ou seja, os escritores, não leem seus pares. Um rápido passeio pelos blogs e páginas virtuais dos nossos escribas evidencia certo desprezo em relação à literatura nativa. Preferem citar modelos consagrados, nacionais e estrangeiros, ou autores cult, quase sempre gringos.
Conversa também com a intensificação da ideia do (uso do) tempo em símbolo de diferenciação social (já que ter coisas já não é exclusividade de certas classes sociais, a disponibilidade e o uso livre do tempo passa a ser o que diferencia uma classe mais alta de uma classe mais baixa).
Nesse sentido, acho muito pertinente a diferenciação entre leitores e compradores de livros.
Por outro lado, será que esse não é um movimento um pouco estimulado pelo próprio mercado? Fiquei refletindo sobre isso. Afinal, o mercado precisa de leitores, mas, na falta deles, talvez bastem os compradores de livros - pelo menos para que o mercado continue em movimento. Nas brechas entre o feijão e o sonho, a gente vai tentando fortalecer uma comunidade leitora ideal, para a qual a leitura seja mais importante do que a performance de leitura e ler seja mais importante do que ter livros.
É uma festa para as grandes editoras que vendem seus livros com preço de capa cheio, aproveitando a "oportunidade". Para as pequenas, o preço do metro quadrado para a montagem do stand, a própria montagem, custo de transportadora ida e volta... As grandes ocupam os melhores lugares e pras pequenas, espaços ruins onde há menos passagem de público. São algumas das dificuldades. Melhor seria formar uma boa rede de livrarias para junto com as editoras de fato formar leitores. Livros de colorir, são "cadernos" de colorir. Que não entrem nas estatísticas pois só prejudicam a formação do leitor. Seria como numa feira de arte só oferecer quadros de incêndios na mata.
Oi, Rodrigo! Tudo bem?
Li sua news numa tacada só e vou escrever do mesmo jeito, pra não perder a empolgação. Sou livreira numa cidade do interior de São Paulo e tenho pensado muito a respeito disso também. E, conversando com um editor de uma editora pequena de títulos infantojuvenis a respeito da ideia minha e de alguns produtores culturais locais sobre fazer uma feira do livro aqui, ele foi bem sincero: "não devia dizer isso, mas acho que as feiras estão tirando o espaço fundamental de vocês livreiros. As editoras, ao participarem dessas feiras, tomam este espaço de venda direta que seria de vocês. Tentar fortalecer as livrarias de rua seria sim um movimento muito mais interessante". E isso me fez repensar esse lado das feiras. Porque acho, aí puxando a sardinha pro meu lado, que as livrarias de rua têm de fato um papel super importante para angariar e fidelizar leitores, é onde eles podem não só comprar (como acontece numa feira), mas receber orientações, trocar impressões, e voltar sempre que quiser. Vejo por mim, minha livraria não é fixa, é itinerante e só trabalho com títulos infantojuvenis, e tenho prezado por escolher editoras menores, com um trabalho mais cuidadoso, e vejo que há sim público para isso, e não só de crianças, acabo vendendo muito para adultos que conseguem, como eu, ver nesses títulos um trabalho primoroso de texto e arte. E isso só é possível porque na livraria, temos tempo de conversa, é clima de restaurante a la carte e não fast food de praça de alimentação. Enfim, ótimo ponto levantado e agradeço demais por usar seu palanque para levantar tais discussões. Um abraço!
Isis
Além das filas de bienais e recorde de vendas de alguns autores, me chama a atenção a quantidade de gente falando (e mostrando fotos) das pilhas de livros "lidas no mês". Para algumas pessoas, ler virou uma competição que precisa de posts comemorativos.
Eu sempre desconfiei dessas postagens.
Tem que olhar o alardeado sucesso dessas bienais com lupas bem rigorosas. Quais são exatamente os livros que venderam mais? Qual a qualidade literária desses livros? Tenho certeza de que a resposta da primeira pergunta é inversamente relativa à segunda, com raríssimas exceções. Outras perguntas: quem vai a essas bienais? São excursões organizadas por prefeituras e escolas que ganham dinheiro com isso? Ou é gente que vai espontaneamente? Enfim, a pauta é boa, faz bem levantar essa lebre, mas ja estive em várias bienais e meu veredito é: são caça-níqueis do tipo CCXP. Não tem muito a ver com arte e literatura.
Não há como discordar. Apenas pensar nas bienais como as convenções anuais de grandes empresas. É uma festa e uma “amostração”. Você vai porque é melhor ir do que não ir. Sabe que vai ser correria, cansativo, muitas vezes bagunçado… mas até pode rolar um bom networking, um contato, uma ideia, e, pra alguns privilegiados, um premiozinho (no caso, ficar entre os mais vendidos).
Que texto bom, Rodrigo. Um otimismo lúcido sempre me parece melhor que um pessimismo sombrio. Que as iniciativas perenes persistam. Beijocas.
Excelente, como sempre, né... E lá vou eu para mais um dever de casa: desvendar a brilhante construção da passagem do tempo em “Nem Mesmo os Mortos”, de Juan Gómez Bárcena. Abraço, camarada. Sigamos. Com esperança ativa e pés no chão.
Eu penso que, em termos gerais, o Brasileiro Médio não gosta mesmo de ler. Sem preconceitos e com base em dados de pesquisas recentes que foram veiculadas na Mídia, grande parte da população brasileira sequer folheia um livro. Eu compro livros, leio cada um deles, resenho e valorizo cada item da minha biblioteca. Jamais compraria por comprar e deixar guardado "para uma leitura futura"; eu monto um esquema, leio um livro diferente por dia e sigo assim o meu Caminho como leitor. Seria leviano de minha parte falar de quem compra de cinquenta a cem livros em uma Bienal, cada pessoa vai saber qual é o propósito da aquisição de cada um; e seria duplamente leviano julgar quem eu não conheço como "verdadeiro" leitor ou não. Somente posso falar de minha própria experiência, é o mais justo a fazer, e repassar um dado de pesquisa que não é uma Fake News.
Essa Bienal é como um Conto irônico do Machado de Assis, onde a piada já começa a partir da própria proposta de um Evento dentro de um país onde grande parte da população sequer folheia um livro.
excelente. Me chamou a atenção uma matéria ao vivo feita pela GNews diretamente do evento, bem lotado. A supremacia das mulheres em toda a imagem do evento. Elas dominando, tanto na escrita, quanto frequentando o evento.
Acho que as bienais tem o frisson de um “shopping só de livros” e, em tempos de rede sociais (e tbm da nova moda de adquirir capital cultural), gera muito engajamento dizer que foi a bienal e postar sua pilha de livros comprados.
E como você bem disse: comprar é diferente de ler.
Esse ano optei por não ir depois que via as imagens de stands abarrotados. Gosto do silêncio das livrarias e de procurar livros com calma. Infelizmente não podia ir durante a semana, então desisti.
a gente precisa investir bem mais na formação de leitores, despertar o interesse dos jovens por livros. e, depois, fomentar a manutenção desses leitores, criar espaços para que os adultos não percam o hábito de ler, para que não sejam tragados por outras atividades e acabem abandonando os livros.
Boa reflexão, Rodrigo. Um dado (empírico) que me intriga é o fato de que os "produtores" da literatura brasileira contemporânea, ou seja, os escritores, não leem seus pares. Um rápido passeio pelos blogs e páginas virtuais dos nossos escribas evidencia certo desprezo em relação à literatura nativa. Preferem citar modelos consagrados, nacionais e estrangeiros, ou autores cult, quase sempre gringos.
Gostei muito da reflexão e acho que ela se alinha muito a uma outra - a da transformação do livro em objeto de moda, representante de status etc., como eu vi nessa news aqui: https://modaecoffee.substack.com/p/capital-cultural-o-novo-luxo-e-ser.
Conversa também com a intensificação da ideia do (uso do) tempo em símbolo de diferenciação social (já que ter coisas já não é exclusividade de certas classes sociais, a disponibilidade e o uso livre do tempo passa a ser o que diferencia uma classe mais alta de uma classe mais baixa).
Nesse sentido, acho muito pertinente a diferenciação entre leitores e compradores de livros.
Por outro lado, será que esse não é um movimento um pouco estimulado pelo próprio mercado? Fiquei refletindo sobre isso. Afinal, o mercado precisa de leitores, mas, na falta deles, talvez bastem os compradores de livros - pelo menos para que o mercado continue em movimento. Nas brechas entre o feijão e o sonho, a gente vai tentando fortalecer uma comunidade leitora ideal, para a qual a leitura seja mais importante do que a performance de leitura e ler seja mais importante do que ter livros.
É uma festa para as grandes editoras que vendem seus livros com preço de capa cheio, aproveitando a "oportunidade". Para as pequenas, o preço do metro quadrado para a montagem do stand, a própria montagem, custo de transportadora ida e volta... As grandes ocupam os melhores lugares e pras pequenas, espaços ruins onde há menos passagem de público. São algumas das dificuldades. Melhor seria formar uma boa rede de livrarias para junto com as editoras de fato formar leitores. Livros de colorir, são "cadernos" de colorir. Que não entrem nas estatísticas pois só prejudicam a formação do leitor. Seria como numa feira de arte só oferecer quadros de incêndios na mata.
Que alegria estar nessa edição ♡ Obrigada 🤗