Déssemos mais valor às coisas bonitas de nosso país e a gigantes de nossa história que estão longe da TV ou do tiktok, a comoção pela morte de Niède Guidon teria sido maior, muito maior do que foi.
Niède bagunçou a maneira como compreendemos as pegadas do ser humano em nosso continente. Arqueóloga, encontrou no Piauí vestígios de antepassados que viveram na região há mais de 10, 20 mil anos. O trabalho indica que não foi só pelo estreito de Bering que homens e mulheres chegaram à América.
Em meio à ditadura militar, a pesquisadora encontrava preciosidades enquanto desbravava a Serra da Capivara. Mas como convencer o governo e a população local de que aquelas pedras, cacos de cerâmica, ossos e pinturas primitivas tinham valor incalculável?
Niède se foi aos 92 anos e teve pelo menos dois grandes méritos em sua trajetória. O primeiro é evidente: as pesquisas que trouxeram mais complexidade à forma como entendemos o passado.
O segundo mérito foi saber fazer política. Política em todos os sentidos.