Textos sórdidos, coléricos, cínicos, degradantes ou com humor cruel
Da Biblioteca: "132 Crônicas: Cascos & Carícias e Outros Escritos", de Hilda Hilst
"Em decorrência da fetidez que assola o país, só tenho vontade de escrever textos sórdidos, coléricos, cínicos, degradantes ou estufados de um humor cruel e até me permitiria sugerir ao caríssimo editor que bolasse uma maneira de a crônica ser fechada assim como certas revistas envelopam um pequeno mimo, uma tirinha de seda, um saquinho de perfume, e envelopariam minha crônica e colocariam sobre ela uma fitinha negra: 'censurado' ou 'só para cínicos', ou 'só para fazer sorrir os desesperados'. Ou quem sabe, à maneira de Hesse: 'só para raros'. Porque, convenhamos, há pulhas em demasia".
Sempre me divirto quando volto às crônicas de Hilda Hilst, provavelmente a faceta menos lembrada da também romancista de "O Caderno Rosa de Lori Lamby" e poeta de “Júbilo, Memória, Noviciado da Paixão”. Em 2018, quando a escritora foi homenageada pela Flip, a Nova Fronteira lançou “132 Crônicas: Cascos & Carícias e Outros Escritos”, o livro que alcanço aqui na biblioteca.
É uma reunião que mistura 20 textos inéditos com outros publicados entre 1992 e 1995 no Correio Popular, de Campinas. São crônicas, desabafos políticos, reflexões sociais e patadas variadas desferidas por uma Hilda muitas vezes pistola e que aproveitava seu espaço no jornal para distribuir bordoadas.