Como chora uma fada sem cabeça?
Da Biblioteca: "A Fada Sem Cabeça", de Luís Henrique Pellanda
Por conta da homenagem da Flip a João do Rio, as crônicas estão um pouco em evidência. Nada demais, nenhuma moda pintando, mas pipocam espaços para que esse tipo de texto seja discutido e seus autores tenham algum holofote. Não estamos diante de um gênero morto, definitivamente.
Um nome que costumo apontar quando me perguntam sobre cronistas para se prestar atenção é o de Luís Henrique Pellanda. As ruas de Curitiba serviram de fonte para que o autor construísse sua caminhada por essas esquinas nem sempre simpáticas. A estupidez que vivemos há mais de década está no trabalho do escritor.
E não só em suas crônicas ou nos impactos que levaram a mudanças profissionais, mas também num lado menos alardeado desse trabalho: a faceta contista de Pellanda. Me agrada demais o que o autor faz nas ficções breves, muitas vezes brevíssimas.
No ano passado, lançou pela Maralto "O Caçador Chegou Tarde". São 60 histórias concisas que dialogam com os tempos em que vivemos. Não que faça isso de forma frontal, direta, escancarada. Pellanda sabe da importância das entrelinhas para uma obra de arte. O leitor que crie suas interpretações para as histórias.
Quando falamos de contos, o grande Murilo Rubião é uma referência assumida pelo autor. E não é difícil sacar os motivos. Os textos de Pellanda são permeados por elementos fantásticos. Muitas vezes o real parece estar suspenso ou distorcido, como se estivéssemos num mundo onírico.
Gosto de “O Caçador Chegou Tarde”. E gosto ainda mais de “A Fada Sem Cabeça”, lançado 2018 pela Arquipélago, que é a minha dica da vez. Como os títulos insinuam, Pellanda busca nos contos de fadas elementos importantes para construir as suas próprias narrativas.
São histórias soturnas, onde há pouco de confiável, permeadas por uma atmosfera de suspense e cenas de horror. Pelas páginas ficcionais de Pellanda encontramos monstros humanos e fantasmas dos mais diversos tipos.
Deixo aqui o conto que dá nome ao livro recomendado: