Tive a alegria de ver “A Biblioteca no Fim do Túnel – Um Leitor em Seu Tempo” aparecer entre os dez finalistas do Prêmio Jabuti. O livro que lancei no ano passado pela Arquipélago concorre na categoria Crônicas.
Quem olha para uma obra qualquer e vê na capa o nome do autor talvez não faça ideia da quantidade de gente que, de alguma forma, está envolvida nesse trabalho.
Começo olhando para longe, bem longe.
Muitas pessoas foram responsáveis por colocar esse autor no rumo dos livros e da literatura. O meu caso chega a ser um clichê: pai leitor, mãe leitora e professores que me fizeram valorizar o brilho de grandes histórias, independente das bobagens que eu respondia nas provas.
Nesse plano mais longínquo, ainda distante do livro em si, há as referências óbvias, nem tão óbvias, inimagináveis e as jamais assumidas que forjam nosso pensamento, nossas ideias. Penso aqui nos incontáveis autores que cruzam nossas vidas, nas muitas pessoas com quem conversamos sobre livros.
Vou além. Nas muitas pessoas com quem conversamos sobre qualquer outro assunto. Tudo pode, de algum modo, nos influenciar, seja por inspiração ou contraposição. Saber o que não queremos da vida é fundamental.
Um ou outro pode até jurar originalidade plena, mas mente. Todo mundo que escreve sempre carrega consigo aquilo que leu, viu, consumiu, discutiu, pensou, sublimou… Viveu. É um diálogo eterno e permanente, faça isso de forma consciente e explícita ou não.
Olhando para a trajetória de “A Biblioteca no Fim do Túnel”, a coisa começa a ficar mais próxima quando penso na Bel, mulher que admiro pela inteligência, pelo rigor intelectual e pela retidão moral. É uma pessoa bela em todas as acepções da palavra.
Esposa e parceira de vida, é com a Bel que formo um lar tranquilo, acolhedor e seguro. Fernando, o cão, e Belinha, sempre, também têm seu papel nesse sentido. Sem essa casa e essa família o trabalho seria outro.
“A Biblioteca no Fim do Túnel” é uma reunião de textos que escrevi ao longo de dez anos. Editores, curadores, coordenadores e afins que me contrataram nesse período e possibilitaram que eu crescesse profissionalmente e me mantivesse financeiramente têm seu quinhão. Não trabalho sentado em herança, todo mês preciso me preocupar com as contas.
Daí chego ao livro propriamente dito. Uma vez escrito, só falta todo o demais. E é muita coisa, muita gente, pode acreditar.
Um editor – o Tito Montenegro – topa publicar. No dia a dia, a preparadora – a Débora Sander – trabalha com afinco no texto. No meio do caminho, uma designer – Paula Hentges – elabora o projeto gráfico enquanto uma artista – Luísa Fantinel – cria a ilustração que dá cara ao livro.
Outra profissional – Thaís Leidens – começa a pensar em ações para divulgar a novidade. Em algum momento a revisão terá que ser feita (Alec Lisboa). E a editora só pode apostar na obra porque é uma empresa e tem alguém para cuidar da parte administrativa (Miréia Almeida).
Ficou decidido que seriam convidadas pessoas para escrever a orelha – Maria Esther Maciel – e o posfácio – Diego Assis –, outros que estão no time que admiro e agradeço. Sem eles “A Biblioteca no Fim do Túnel” não existiria. Não da forma como chegou às livrarias, ao menos.
Certamente deixo alguém de fora e já antecipo o pedido de desculpas. A relação, no entanto, ainda não acabou. Tem o pessoal da gráfica, da distribuidora, das livrarias…
E até aqui pensei no livro fechado, sem cumprir o seu destino, sem passar pela etapa fundamental para que exista de verdade, extrapole a mera materialidade física. Há ainda o elo mais importante de toda essa cadeia: o leitor.
Um livro fechado, sem leitor, não é absolutamente nada. Por outro lado, se desdobra sempre que alcança outra pessoa, ganha novas possibilidades de diálogos, interpretações e finalidades a cada novo leitor. O que faz um autor são seus leitores, como escrevi outro dia.
Diga o que disser até o mais recluso dos escritores, o mais confiante de sua originalidade e independência no mundo, ninguém faz nada sozinho.
Um livro sempre é um trabalho coletivo.
Espaço patrocinado por Crio Café
Meus jeitos de fazer café
Na edição passada eu escrevi sobre os (poucos) cacarecos indispensáveis para um bom café.
Repito: se o grão for legal (com torra e moagem recentes), água filtrada e um suporte de plástico baratinho com coador de papel já garantem boa bebida.
É o que uso por aqui na maior parte das vezes, com a diferença de que faço a moagem na hora e de que tenho um porta filtros de cerâmica comprado numa dessas lojas de bugigangas orientais. Coisa barata também.
Mas gosto de variar. Mantenho em casa alguma diversidade de cafés, boa parte deles da Crio, para fazer em meus métodos preferidos.
O coado do dia a dia garante uma bebida bem limpa. A cafeteira italiana (ou moka) é a que mais se aproxima do espresso. A aeropress, com suas muitas variáveis, permite fazer cafés com uma enormidade de perfis.
Reconheço que não me entendi muito bem com a prensa francesa, tão querida por muitos. E uso a máquina que simula espresso principalmente quando o tempo é curto - antes de jogar bola aos sábados de manhã, por exemplo.
E por aí, como vocês costumam preparar o café?
Além do Eu
Clube de Leitura da Página Cinco
Em setembro nós tivemos um ótimos papo sobre “Diorama”, da Carol Bensimon (Companhia das Letras).
Os próximos encontros do Clube de Leitura da Página Cinco, exclusivo para os assinantes que pagam pela newsletter, serão em novembro e dezembro!
Em novembro, no dia 18, conversaremos sobre “Cidadã de Segunda Classe”, da nigeriana Buchi Emecheta (Dublinense).
E em dezembro, no dia 16, para fechar bem o ano, será a vez de “O Castelo”, de Franz Kafka (diversas editoras).
Aqui há mais o informações sobre o Clube de Leitura da Página Cinco.
Tudo é sonho
“Profetas e escritores sempre souberam que a vida é sonho. O mesmo cérebro produz nossas múltiplas vidas noturnas e nossa vida cotidiana. Tudo o que vivemos é um sonho lúcido, que entra em vibração com os sonhos lúcidos de todas as outras pessoas, para termos a ilusão de um mundo comum. Não faço distinção, nos meus livros, entre o que é real e o que é inventado, imaginado, sonhado. Minha maior satisfação é fazer uma gradação lenta entre real e fantástico, de modo que o leitor não perceba ter deixado seu mundo corriqueiro para adentrar num mundo estranho e fabuloso. Para ser um bom escritor de literatura fantástica, é necessário primeiro ser um ótimo escritor realista”.
Mircea Cărtărescu para O Globo.
Escritor no Domingão do Huck
“Pessoas que me conhecem bem já me disseram que penso demais. E nesse episódio pensei até pifar, quase. Foi exaustivo ficar debatendo comigo mesmo sobre ter valido a pena ou não. Se teria sido vergonhoso para alguém que lida com literatura ter se sujeitado a participar de um programa de massa. Também foi cansativo recorrer à impressão de pessoas próximas pra tentar me certificar de que foi proveitoso: quando se trata de mim mesmo, parece que não tenho minha própria opinião; preciso da alheia”
O Oscar Nestarez de vampiro no Domingão do Huck:
Aulas
Vale muito olhar com calma as aulas de literatura disponibilizadas pelo
. Tem Kafka, Houellebecq, Camus, Cecília Meirelles, Marguerite Duras…📢 O que mais rolou na Página Cinco
📝 É um problema a série “Cem Anos de Solidão” não ser fiel ao livro?
📝 Série de entrevistas com vencedores do Nobel de Literatura
📝 Antonio Cicero: a dignidade de poder decidir a hora da própria morte
📝 “Misericórdia”: Lídia Jorge e a busca pela vida quando a morte se aproxima
📝 Feira Miolo(s): a chance para conhecer um outro universo de livros
🎙️ Livre e imaginativa: a vasta literatura de César Aira - papo com Carlos Henrique Schroeder:
Muito bom, Rodrigo! Fico imaginando que os bastidores de um livro dá um outro livro!
A vida de um livro são várias vidas. Muito bom! Abraço.